sexta-feira, 17 de abril de 2015

Timor Leste segundo o FMI

O FMI acaba de publicar o seu relatório bi-anual World Economic Outlook; edição de Abril (a segunda edição surge normalmente no fim de Setembro ou início de Outubro; procure em www.imf.org).

O relatório é acompanhado de uma base de dados (.xls) com dados estatísticos sobre virtualmente todos os países do mundo, já que quase todos são membros do Fundo.
Dessa base de dados constam, naturalmente, dados sobre Timor Leste. Aqui vão alguns deles mas também dados sobre as perspectivas imediatas da economia mundial.





O gráfico imediatamente acima, sobre o PIB (petrolífero) per capita, precisa de uma explicação complementar pois pode "assustar" os leitores devido à anunciada descida acentuada do PIB por pessoa.
Na verdade o que se passa é que o FMI, quanto a mim erradamente porque susceptível de leituras enganadoras, usa como definição do PIB aquele que, no caso de Timor Leste, inclui os dados sobre a actividade petrolífera do país. Na minha opinião e para evitar más interpretações, devia usar o conceito de PIB não-petrolífero, que não inclui aqueles dados mas apenas os relativos à produção "doméstica".

Acontece que é sabido que a pordução petrolífera tem vindo (tal como se sabia desde o seu início) a baixar e vai virtualmente desaparecer cerca de 2020-2022. Isto é: na prática é como se os dados do país segundo os do FMI não fossem completamente comparáveis ao longo de todo o período ilustrado no gráfico pois até 2005 NÃO houve produção petrolífera e depois de 2020 esta voltará a desaparecer. 
Note-se que, mesmo depois de 2020, os dados nunca serão completamente comparáveis com os dados até 2005 já que nessa altura as despesas públicas eram muito baixas devido à inexistência de recursos que as financiassem; depois de 2020 o Fundo Petrolífero vai continuar a financiar as despesas do Estado e estas,mesmo que se reduzam em relação a um passado mais ou menos recente (as "yellow road" dos últimos anos têm apontado para gastos de 1300-1200 milhões de USD, menos que os OGEs aprovados mas não muito longe da execução orçamental efectiva), manter-se-ão bem acima dos valores até 2005, quando elas pouco ultrapassavam os cerca de 120 milhões de USD.
Temos, portanto, que a queda do PIB (petrolífero) per capita ilustrada no gráfico é principalemnte o resultado do progressivo fim da produção petrolífera, não podendo ser interpretada como ilustrando uma queda efectiva do nível de vida e de rendimentos do cidadão comum timorense.

Já agora, uma última nota sobre o gráfico relativo às despesas públicas. As estatísticas, qualquer estatística e principalmente as estimativas quando ao comportamento futuro das variáveis, partem de um princípio fundamental: o de que tudo, no futuro, se passará mais ou menos como no passado... Isto é reduzir --- senão mesmo eliminar --- o papel da política económica na determinação do comportamento futuro dessas variáveis. O caso das Finanças Públicas, particularmente das despesas, é o mais evidente pois assume que tudo acontecerá mais ou menos como no passado, segundo a linha de tendência determinável por esse mesmo passado. 
No caso de Timor Leste pode --- sublinho PODE! --- não ser assim. De facto, assim como já assistimos, num passado não muito distante, a  reduções do nível das despesas públicas, elas poderão voltar a acontecer se os decisores de política económica entenderem que um nível mais baixo destas é mais sustentável do que o actual traduzido nos OGEs de cerca de 1500 milhões (2014 e 2015) e em gastos efectivos de 1100-1300 milhões de USD (2013 e 2014). A ver vamos...
Isto é: aquela tendência crescente ilustrada pelas estimativas constantes do gráfico pode não se confirmar e haver até alguma descida. O futuro o dirá.